Segundo especialistas, consultores e gravadoras, estima-se que o segmento movimente cerca de R$ 1,5 bilhão por ano, só entre gravadoras, editoras, tecnologias e serviços referentes à produção de CDs. É um total de 10% de todos os itens religiosos, incluindo bíblias, livros e lembrancinhas, comercializados para fiéis das igrejas pentecostais e neopentecostais. O sucesso é tanto que pelo menos dez novos CDs do segmento são lançados todo mês no País.
Em 2014, a gravadora MK Music, que reúne o maior e principal grupo das 28 indicações ao Grammy Latino da Música Gospel, instituído há pouco mais de dez anos, vendeu pelo menos dois milhões de CDs e DVDs. Este ano lançou o CD ‘Da Eternidade’, da cantora Fernanda Brum, e DVD ‘Tim-Tim por Tim-Tim’, trabalho especialmente para o público infantil da cantora Aline Barros. A empresa também programou para este mês, o lançamento do disco ‘Extraordinária Graça’, de Aline Barros; e o CD ‘Eternamente’, que marca o retorno de Cassiane para gravadora. “É satisfatório ver que a cada ano a música gospel rompe barreiras e avança, com qualidade sonora e bom conteúdo. E temos potencial para ir mais longe”, prevê Yvelise de Oliveira, presidente da MK Music.
Mas de onde vem esse milagre, já que em geral o mercado fonográfico brasileiro amargou em torno de 7% de queda nos últimos cinco anos? Analistas citam dois fatores primordiais, além do crescimento da divulgação em plataformas digitais: o Brasil já é o segundo país com maior número de evangélicos no mundo.
Segundo estatísticas, se continuar nesse ritmo a igreja evangélica no País alcançará metade da população no ano 2045. O outro motivo preponderante é a mudança radical de ritmos, que passaram dos antigos formatos estridentes, repetitivos, tipo campanha de político, para mais populares. Estilos como rock, sertanejo, forró, pop e suas variações, começaram a ter espaço garantido nas rádios, TVs e shows, sem preconceitos. Os chamados cantores-pregadores, como Aline Barros, Anderson Freire, Regis Danese, Cassiane, Fernanda Brum, Cassiane, Oficina G3 e Bruna Karla, por exemplo, não saem mais das paradas de sucesso.
“Infelizmente, hoje temos vivido tempos em que as notícias são de violência, morte ou destruição. Onde o som de um louvor chega, leva a paz de Deus, o amor Dele, a beleza do evangelho de Jesus. O povo cristão tem recebido mensagens de otimismo e esperança através das canções”, define Aline Barros. “Onde há crise para nosso rebanho que nos ouve, há Cristo. Nossas músicas tentam traduzir isso”, resume Cassiane.
Além dos tradicionais CDs, os artistas gospel que cada vez mais freqüentemente estão entre os tops dos hits mais tocados, têm aumentado fama e fortuna através de plataformas digitais. A tendência foi temas do debate Mídias Sociais e Música Digital, na Festa Nacional da Música 2015, em Canela (RS) em outubro. Maurício Soares, diretor-executivo da Sony Music, revelou que 72% do faturamento da empresa vem do meio digital, responsável por 68% da divulgação da música gospel nos últimos cinco anos. Tanto que a gravadora, após uma década de estudos, decidiu criar um departamento dedicado à música evangélica.
Soares justifica a decisão: “Se há alguns anos tínhamos três mil pontos de venda de discos no Brasil, hoje trabalhamos com mais de 280 milhões de celulares, pelo menos 60 plataformas digitais, e um imenso campo de oportunidades e novas tecnologias”, opinou.
Motivos para atrair consumidores não faltam. Afinal, hoje há aproximadamente 4,5 mil cantores e bandas gospel brasileiras no mercado. São pelo menos dez lançamentos todo mês, conforme a ABPD. “Só nessa loja (Coisas de Crente, no subsolo da Central do Brasil), vendemos mais de mil CDs por mês, ou mais de 30 todos os dias”, garante o gerente Franklin Joans, de 28 anos.
Entusiasmado de tanto lidar com a fama dos outros, Joans, da Igreja Plena Paz, de Santa Cruz, também trabalha para lançar o seu álbum, que deverá ser batizado de ‘Onde está o amor?’. “Tenho 50 músicas compostas para passar a mensagem do Evangelho”, comenta.
Ele ressalta que o fato de os CDs evangélicos serem menos suscetíveis à pirataria, e o preço, em média R$ 20 cada álbum — metade dos outros —, influenciam. “Não compro falsificado. É pecado”, explica Míriam Lúcia da Silva, 40, da Igreja Assembléia de Deus de Figueira, em Duque de Caxias. “Quando a grana está curta, vou nas promoções”, diz Luzenir dos Santos, 36, do Templo Poço de Jacó, de Itaboraí.
Outros debatedores do evento, como Cláudia Fonte, da Som Livre; Alomara Andrade, da MK Music; Jeferson Baick, do site Garagem Gospel; e Felipe Kannenberg, do Grupo Dial de Comunicação, concordaram com o crescimento extraordinário do mercado digital, mas apostam ainda na propagação do gênero gospel por meio de outras mídias, como os CDs.
“Temos públicos diferenciados”, ressalta Cláudia. Alomara diz que o faturamento da gravadora é de 70% com produtos físicos (CDs) e 30%, com o universo digital. A representante da MK adiantou que a empresa está ingressando no streameng (transmissão de conteúdo on-line) e tem mantido boas parcerias com o setor de vídeos. Mas muitos fiéis preferem os CDs. É o caso do comerciante Miguel do Nascimento, 56, que não perde um lançamento. Perdeu a conta dos CDs gospel que tem. “No final do dia, Deus fala conosco pelos cânticos, hinos, nos confortando e dando forças.”
CONHEÇA ALGUNS DESTAQUES DA MÚSICA GOSPEL DA ATUALIDADE
* Aline Barros: Carioca, casada com o ex-zagueiro Gilmar Santos, mãe de Nicolas, 12, e Maria Catherine, 3,tem mais de 20 anos de carreira solo, e é uma das cantoras mais populares do Brasil. Ganhadora de seis prêmios Grammy Latino, só nos últimos 10 anos conquistou 44 discos de platina, diamante, e de ouro.
* Anderson Freire: De Cachueiro de Itapemirim (ES), em apenas 5 anos de carreira solo como cantor, se tornou um dos principais nomes do momento. Compositor de artistas como Aline Barros, Cassiane e Bruna Karla, já conquistou 12 prêmios nacionais e duas indicações ao Grammy Latino. É com Raquel Freire e pai de Gustavo, 6
* Bruna Karla: gravou seu primeiro álbum aos 11 anos. Hoje, aos 26, comemora 15 anos de carreira e o posto de uma das cantoras mais queridas do país. Tem duas indicações ao Grammy Latino, e canções que ultrapassaram fronteiras do gospel, como "Sou Humano" e "Que Bom Você Chegou". Natural do Rio de Janeiro, tem 21 prêmios e é casada com o produtor musical Bruno Santos, e mãe de Benjamin, 2.
* Cassiane: prestes a comemorar 35 anos de uma imponente e ativa carreira, Cassiane foi a primeira cantora gospel no Brasil a receber Disco de Diamante (Com Muito Louvor, por mais de um milhão de cópias vendidas). Com 20 trabalhos inéditos lançados, dezenas de coletâneas, oito DVDs e álbuns em dueto com o marido Jairinho, já conquistou mais de 20 Discos de Ouro, e vários álbuns de platina duplos. O lançamento do CD `Eternamente´ é um dos mais aguardados para este mês. Carioca, é mãe de Jayanne, 16, Caio, 14, e Joshua, 12.
* Fernanda Brum: umas das mais criativas e inventivas de sua geração. São 20 anos de carreira, 11 álbuns inéditos lançados, além de várias coletâneas e seis DVDs. Recebeu 40 prêmios nacionais. Carioca também, é casada com o produtor musical Emerson Pinheiro, e mãe de Isaac, 12, e Laura, 5.
* Kleber Lucas: intérprete e compositor, com amplo conhecimento musical e sonoridade sempre contemporânea. Em mais de 15 anos de carreira, lançou 11 álbuns, três DVDs e ganhou o Grammy Latino 2013, com o CD `Profeta da Esperança´. Conquistou 13 discos de platina e ouro.
* Oficina G3: principal banda de rock gospel do país. São quase 30 anos de estrada, reconhecimento não apenas do público, mas do mercado também. Foi a única banda cristã a tocar no Rock in Rio III. Juninho Afran, fundador, é apontado como um dos maiores guitarristas do País. Tem oito prêmios nacionais.
* Regis Danese: seu grande sucesso "Faz Um Milagre em Mim" rompeu todas as barreiras. Executadas não apenas em rádios segmentadas, ainda hoje é cantada em todo Brasil e exterior, independente de religião. Regis está freqüentemente em programas de TV. Ganhou o Prêmio de Música Digital, com o single religioso mais vendido. Pela MK Music, lançou seus três álbuns mais recentes. Mineiro de Uberlândia, fez parte do Só Pra Contrariar. É casado com Kelly, e pai de Bruno, 16, e Brenda, 7.
Fonte:O Dia
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